Uma história longa e pouco documentada está por trás dos roteiros que você escreve hoje.

Formato Master Scene e Spec Scripts – como a indústria do cinema suprimiu o roteirista.

O roteiro cinematográfico tem uma formatação convencional, chamada de master scene, mais recente do que as convenções da linguagem audiovisual em si. Ou seja, plano, contraplano, close, zoom-in, zoom-out, plano médio, etc. existem há muito mais tempo do que o formato master scene (cuja origem é dispersa ao longo da história do cinema hollywoodiano, mas chegou a sua forma atual a partir de um processo de divisão de responsabilidades).

Com uma história não muito bem documentada, o roteiro de cinema é um gênero textual muito suscetível às pressões mercadológicas e trabalhistas da indústria que serve. Essa divisão de responsabilidades tem uma série de explicações possíveis e todas estão interligadas. O resultado para a arte da roteirização de filmes foi uma contenção do roteirista ao seu próprio domínio.

Por que contenção? Nos velhos sistemas de estúdio mundo afora (modelados de acordo com o padrão norte-americano) os roteiristas escreviam muito mais do que seria o filme final. O que isso significa? Basicamente que fazia parte da profissão de roteirista de cinema, além de contar uma história e descrever seus acontecimentos e diálogos, indicar quais planos seriam usados quando e onde aconteceria um corte ou uma transição. 

Dentro dos estúdios, os roteiristas descreviam, literalmente, o filme todo. Diz-se que quando os estúdios não mais podiam ter seus próprios cinemas (em uma ação antitruste e monopólios do governo norte-americano), ou seja, não tinham salas garantidas para qualquer coisa que pudessem produzir nas coxas, o papel dos diretores e atores ficou mais importante. Esses profissionais se viam com mais mérito sobre o sucesso de um filme do que admitia o sistema. Logo, exigiram mais liberdade criativa. 

Hoje, o formato master scene é preservado em torno de uma preocupação com não invadir o espaço dos outros profissionais da equipe. Referências textuais à câmera e à montagem foram suprimidos dos roteiros.

Quando escreve, o roteirista pode se imaginar como um diretor e um editor, mas a indústria pede que não faça isso. 

Isso quer dizer que o roteirista, de certa forma, não mais imagina o filme, mas imagina a história acontecendo, sem uma câmera de referência, tal qual um escritor de literatura. Diferente da escrita literária, contudo, o roteirista também suprime descrições alongadas e figuras de linguagem complexas. O texto deve ser limpo, aparentando ser independente da subjetividade dos personagens (o que é uma ilusão, mas uma ilusão útil à prática do cinema). A inteligibilidade é a coisa mais importante de um roteiro audiovisual.

O que o roteirista escreve, hoje, é o que se chama de roteiro literário (ou spec script). O roteiro com indicações de atuação, direção e da forma cinematográfica dada à história pertencem ao shooting script (roteiro de set), trabalhado pela equipe de direção.

Leva muito tempo para que o roteirista desenvolva essa sensibilidade à escrita propriamente cinematográfica. Em seus primeiros trabalhos vai escrever roteiros com muitas direções técnicas ou muito literário. 

Com a prática de estudo e mercado o profissional vai se formando: limpando seu texto até a objetividade narrativa que produtores buscam.

Acima de tudo, um roteiro é um texto gostoso de ler, divertido, rico e interessante, mas sucinto e claro.

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