Edital ou Independente: como financiar meu filme?

A Mãe dos Filmes

Não é nenhum segredo que os governos dão à luz os projetos audiovisuais feitos em qualquer país do mundo fora os Estados Unidos. Apoiados pelas leis de incentivo que os muitos profissionais dedicados da área podem realizar seus projetos.. Hollywood, vale lembrar, é padrão de exceção da indústria cinematográfica entre todos os países do mundo. Todo lugar tem um mainstream e um underground, mas Hollywood é o mainstream do mundo inteiro, essa é a diferença. Apesar de tudo, o mercado americano também é beneficiado por leis de incentivo do próprio governo americano e de outros países, que fornecem incentivos fiscais para os estúdios de Hollywood filmarem dentro de suas fronteiras.

A prática das leis de incentivo se tornou padrão estruturador das atividades culturais no país. Em se tratando de cultura, tem pouco que se pode fazer para estruturar de maneira ampla todos os núcleos fomentadores, que a cada inovação se configuram em novas formas nas periferias da estrutura estabelecida.

Ademais, existem também abalos significativos que transformam radicalmente esse eixo estrutural. No caso de uma cultura que depende das Leis de Incentivo, são as mudanças de maré na política nacional e estaduais que jogam os atores do mercado cultural de um lado para o outro. Desde 2016 o Brasil vem enfrentando uma precarização da estrutura cultural, e o cinema não é exceção. 

Sobre a indústria audiovisual como um todo, contudo, pode se dizer que, apesar dessa turbulência sistêmica, continua se profissionalizando progressivamente. 

O advento da internet implicou em diversas convergências midiáticas. Isso impacta desde a natureza conceitual dos projetos audiovisuais (que passam a escapar das classificações mais tradicionais de longa-metragem para cinema e séries para a TV) até as formas de financiamento e distribuição. Apesar disso, as Leis de Incentivo permanecem as grandes norteadoras de financiamento e padrão de indústria que, para muitos profissionais da área, dificilmente será erradicada por algum tipo de configuração liderada pela iniciativa privada. 

Coloque na balança

Sai de sua toca de ideias o realizador cinematográfico, atrás de formas de tornar suas ideias uma obra pronta. Existem, em essência, dois caminhos: o edital e a independência. Trabalhar em cada um tem seu lado bom – e ruim também, é claro. Dedicar seus esforços a uma ou outra depende de sua predisposição e suas intenções. 

Porque trabalhar com as Leis de Incentivo

O financiamento estatal de um filme garante mais estrutura operacional ao projeto. Quando um filme é feito com dinheiro público,  todo gasto deve ser registrado com nota fiscal ou documentos oficiais, seja com equipamento, materiais, equipe ou logística. Tudo é documentado. 

Esse vínculo formal garante que todo mundo elencado para trabalhar na produção vai de fato aparecer para trabalhar. Também porque todo mundo sabe que será pago. Os contratos que ficam apenas no verbal na produção independente podem ser facilmente quebrados, em particular por profissionais secundários, que apesar disso podem causar de dor de cabeça ao caos com sua ausência – como figurantes ou responsáveis por transporte.

Uma vez garantido o edital, é mais fácil que seu projeto tenha tempo de desenvolvimento sem virar fumaça de uma hora para a outra, por causa da fundação mais sólida sobre a qual o filme está sendo feito. 

O set sempre pode desandar. Contudo, tendo todos os vínculos garantidos formalmente, é mais tranquilo criar um ambiente controlado para realizar seu filme. Esse ambiente controlado vai desde detalhes minuciosos na relação com os profissionais, até a garantia de que vai ter os materiais necessários pelo tempo necessário e toda a estrutura do set em si. Estando tudo acordado, caso o planejamento tenha sido bem feito e seja bem cumprido, é menos provável que ocorram interferências externas muito prejudiciais.

Existem muitos filmes que são vistos com desconfiança por empresas que se envolvem com o apoio de filmes. Filmes fora do espectro típico de diegese narrativa ou mais pesados em temática e conteúdo podem ter dificuldade de conseguir apoio privado. Esse tipo de projeto tem uma chance de existir sem essas pressões a partir da seleção por edital. Em qualquer um dos casos existem limites. Poucos filmes ganham distribuição ampla e apoio em uma área territorial vasta, mesmo para quem nem tenta ultrapassar as fronteiras do Brasil. Isso, contudo, é um problema mais amplo do aparato de distribuição e salas de cinema.

Um fato sobre o edital não pode ser ignorado: é dinheiro público. É importante não ignorar que o mal uso desse dinheiro possui uma implicação maior do que o mal uso de seus próprios recursos. Ademais, esse compromisso, aliado ao compromisso burocrático, servem de bons incentivos para que esse filme seja finalizado, o que pode ser difícil para alguns quando agindo independentemente. 

Porque produzir independentemente

Tem um tempo certo para tudo na vida, e o tempo de fazer seu filme pode ser agora. Existem cineastas que gostam de trabalhar em ambiente controlado, e existem filmes que nascem com urgência, que se não forem feitos agora, perdem seu sentido – seja um sentido pessoal ou político. O processo de seleção e realização de um filme com todo o processo de liberação do edital de cultura leva, pelo menos, uns dois anos, facilmente. Uma produção independente não é atrasada por esses processos. Você pode fazer seu filme quando e como bem entender. Um curta-metragem pode ser finalizado numa janela de poucos meses, sem precisar passar pela burocracia do edital. Edital esse que, inclusive, é muito difícil de conseguir, por causa da grande concorrência.

Esse “como” bem entender envolve, é claro, vínculos contratuais. Uma produção independente não precisa prestar contas de cada gasto, o que reduz o tempo e energia gastos com burocracia e os gastos em si. 

Como mencionamos, a internet dissolveu algumas barreiras midiáticas. Entre elas estão a de criador e público. Filmes de qualquer tipo podem muito bem ser pagos com financiamento coletivo. Esse processo, inclusive, aproxima você de seu público e garante, antes mesmo de entrar em produção, que seu filme será visto. Não apenas por um público qualquer, mas um público envolvido com a ideia. Filmes com pautas sociais relevantes possuem particular penetração nesse tipo de processo, justamente em virtude do envolvimento que o público tem com a ideia e o investimento realizado, pequeno que seja. 

Muitos gastos na produção de cinema são feitos em setores não-criativos. Esses custos operacionais e logísticos podem ser arranjados com empresas parceiras. Essa negociação é viável e pode agilizar muito o processo. Parcerias para angariar recursos criativos – equipamentos e materiais também é possível. Esse material de produção também pode ser encontrado para locação a preços acessíveis.

É uma questão de dinheiro, mas também não é

O que você quer, e precisa, é verba para fazer seu filme com sua equipe, nas melhores condições possíveis. A questão que deve ser encarada, independente da fonte, é como esse dinheiro será gasto. O que é realmente custoso, o que precisa ser de um jeito específico, o que pode esperar para outra ocasião. O planejamento do projeto deve levar em conta as alternativas para os gastos. Saber qual é o gasto essencial e qual não é faz toda a diferença na abordagem do financiamento. Por vezes, o custo pode ser reduzido com estratégias criativas e técnicas. Em outros casos com parcerias e negociações independentes do dinheiro público, que, por outro lado, é sempre cedido em maior quantidade que o privado.

Leve em conta suas necessidades e boa sorte na sua produção!

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